NOA


- A científica arte em que não se pode confiar negocia a nação assolando o astro considerado como um todo organizado. Pois piedosas gentes de monásticas ordens opõem aos sentimentos de devoção direcionados a uma pessoa ou ente abstrato. Assim, há pessoas que recebem lições e instruções de um mestre em escola ou em particular pesquisam e analisam exaustivamente com minúcia a conquista do desconhecimento e da falta de instrução, da falta de saber. Exprimindo ideia de contradição, a qualidade particular e distintiva assim como a maneira de ser deste que te fala se expressa através da representação gráfica da linguagem.
- O quê?
- Ah... Não importa. Ao fim da manhã de hoje conheci a pequena família de Ian. Ele, a esposa chamada Karen e Sofia, a filha deles. Para pegar a senha de nossos atendimentos, estávamos no final da fila de uma filial do mais antigo estabelecimento nacional de crédito que adianta e recebe fundos assim como realiza quaisquer transações de valores. Ao ver o casal desavisado de seus direitos de prioridade, pois a menina era de colo, contei que podiam ir à frente.
- Legal! Eu gosto sempre de fazer novas amizades.
- Nos primeiros segundinhos já percebi terem a língua hispânica... Eles custaram aceitar ir para frente porque sendo estrangeiros não queriam irritar os brasileiros. E disseram várias vezes estranhar as diferenças culturais, inclusive esta de prioridade dos idosos, gestantes e etc. Então disse em espanhol ao casal: “Ora, que bobagem. Ninguém ficará irritado por isso. Direito é direito e pronto. Podem ir, vão!”. Então Karen foi e enquanto ela pegava as informações que necessitavam fiquei conversando com Ian.
- Somos refugiados venezolanos…
- Refugiados da Venezuela? Não estou sabendo o que está acontecendo lá para produzirem refugiados.
- Somos refugiados políticos.
- Neste instante a esposa volta e se vão os três. E eu fiquei lamentando a nossa ignorância em relação aos nossos irmãos latino-americanos. E igualmente lamentando porque o Brasil está indo para o mesmo brejo que a Venezuela já está...
- É... interessante... Mas ainda não entendi o que você falou no início... Na verdade não entendi foi nada.
- No início falei apenas uma quadra de Rubem: “A política suja destrói o mundo / Religiosos impedem o amor / Alunos buscam a ignorância. / Eu escrevo”. O restante é só uma questão de pensar, raciocinar, filosofar.

Leitura do cronto no youtube: https://www.youtube.com/watch?v=LVgyxOCjWec


Segundo o Mestre em Linguística e Doutor em Língua Portuguesa José Augusto Carvalho (Revista Conhecimento Prática Língua Portuguesa, ed. 63, p. 48), “um tabu linguístico é a proibição de dizer palavras às quais se atribui o poder de causar desgraça a quem as proferir. Para se evitar uma palavra tabu, usa-se, por exemplo, um eufemismo (‘mal de Hansen’ em vez de ‘lepra’), ou uma corruptela (‘diacho’ por ‘diabo’), ou um sinônimo (‘anticristo’ por ‘demônio’), entre outros subterfúgios. A palavra neutra, permitida, que se usa para substituir o tabu, se chama noa. Assim, ‘cão’ ou ‘coisa ruim’ são noas que evitam dizer o nome do diabo”. No meu cronto usei noas principalmente no primeiro parágrafo para dizer o poemeto no final do texto e para falar Banco do Brasil, lugar onde estava a fila que peguei com a família venezuelana.

Lota de Macedo Soares, apesar do texto não falar nada dela, o utilizo para homenagem a arquiteta Maria Carlota Costallat de Macedo Soares, que foi uma arquiteta-paisagista e urbanista autodidata brasileira. Nasceu a 16 de março de 1910 e faleceu a 25 de setembro de 1967 (exatamente um ano antes de meu nascimento).

 Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve ao Ad Substantiam semanalmente às quintas-feiras; e todo domingo no seu blog literário: aRTISTA aRTEIRO.  É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. É graduado em Letras Português; tem quatro pós-graduações e é Mestrando em Educação pela Universidad Europea del Atlántico. Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).


Escrito e trabalhando entre 12 e 16 de março de 2017.

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