Uma surpresa "desagradável"
As
duas se conheceram em um barzinho, conversa vai e conversa vem, as pernas por
debaixo da mesa começaram a se encostar, um calor distinto do causado pelo
refrigerante batizado esquentou os corpos, o diálogo também foi esquentando e
as vaginas molharam-se. O final da interlocução tornou-se previsível para
ambas.
E
assim foi...
As
duas foram para um motelzinho próximo. A região era, convenientemente, cheia de
motéis, havia um em casa quarteirão mal iluminado, era um espaço de moral
frouxa, meninas menores de idade entravam de carro nos motéis com homens mais
velhos inadvertidamente, porém não é este o caso dessas senhoritas
excitadíssimas, ambas tem mais de trinta anos.
Após
o chupa, chupa, cola, cola as duas, suadas, deitam-se, cada uma em um lado da
cama, o cheio de xana é exalado por entre os lábios de ambas. O tempo vai
passando, as respirações vão ficando menos ofegantes, o silêncio vai se
quebrando:
–
Você é formada em algo? – Pergunta a de cabelo preto, olhando para o lado.
–
História. – Responde a de cabelo castanho.
–
Professora, certo?
–
Sim, por quê?
–
Não, nada, só que geralmente cursos de História são licenciatura.
–
Desculpe a reação, estou acostumada a idiotas falando mal da docência.
– Eu
não faria isso.
Ficam
caladas mais uma vez.
–
Você tem grana, né? Dá pra ver pelo carro. – Coloca a de cabelo castanho.
–
Acho que sim, minha esposa é uma atriz famosa no teatro, tem uns caches legais
e me ajuda. Tenho dificuldade de conseguir trabalho. – Responde a de cabelo
preto.
–
Você é casada? – Surpreende-se a de cabelo castanho. – Sua esposa não é
ciumenta, não é?
–
Não, é aberto, fique tranquila.
A de
cabelo castanho vira-se para a de cabelo presto, fica a olhar para ela:
– O
que está olhando? – Pergunta a de cabelo preto, virando-se para a de cabelo
castanho.
– Eu
te acho familiar. – Responde a de cabelo castanho.
–
Onde fez o ensino médio?
– No
Raimundo Ferreira.
– Eu
também estudei lá, eu e você estudamos na mesma escola. – Coloca a de cabelo
preto, sem surpresa.
–
Sério? – Um sorriso se abre no rosto da de cabelo castanho.
– Na
mesma sala. – Coloca a de cabelo preto, virando-se para o teto.
–
Não lembro de você, deve ter mudado muito, pois tenho memória de elefante.
–
Mudei mesmo.
– O
cabelo? O rosto?
– Eu
mudei tudo.
–
Tudo? Isso é filosófico.
–
Não, não é, é literal, eu mudei de sexo.
– Ai
que foda! Nunca transei como uma mulher transexual. Quem era você na sala
quando era, você sabe, homem?
–
Acho que só era homem no corpo, mas certo... Eu era o Marcos.
–
Marcos? O cara com acne, magrelo e ateuzinho que zoava astrologia?
–
Ele mesmo.
– Eu
estrou transando com o nojento do Marcos? Eu odiava você! Estraga prazeres do
caralho com sua merda de método cientifico e ceticismo! – Exclama a de cabelo
castanho, como se falasse de alguém que não está ali.
–
Mais ou menos, isso é engraçado! – Afirma a de cabelo preto com um sorriso
sarcástico.
A de
cabelo castanho é tomada de repulsa, Marcos costumava ser tudo que ela odiava
no colégio, vira o rosto bruscamente e vomita no chão, enchendo em pouco tempo
o quarto com o cheiro de seu jantar meio digerido.
Engraçado,
não teve nojo enquanto lhe chupava a boceta...
SUED
Nome artístico de Línik Sued Carvalho da Mota, é romancista, novelista, cronista e contista, tendo dois livros publicados, também é graduanda em História pela Universidade Regional do Cariri. Militante comunista, acredita no radicalismo das lutas e no estudo profundo de política, sociologia, História e economia como essenciais para uma militância útil.
Escreve ao Ad Substantiam semanalmente às segundas-feiras.
Contato: lscarvalho160@gmail.com
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