A Ideologia Alemã, de Karl Marx e Friedrich Engels - Resenha simplificada em série (Parte 2)
















“O primeiro pressuposto de toda a História humana é, naturalmente, a existência de indivíduos humanos vivos. O primeiro fato a constatar é, pois, a organização corporal desses invíduos e, por meio dela, sua relação dada com o restante da natureza.” (2007, p. 87)

A crítica que Marx faz a Bauer e Feuerbach é relacionada a percepção destes como “objetos sensíveis” e não como “atividades sensíveis”, Marx e Engels argumentam que a natureza é transformada pela atividade humana e, a partir dai, a própria natureza passa, também, a ser percebida historicamente pela intervenção dos humanos. A forma de apropriação da natureza, formas de produção e atividades criadoras não estão, nem poderiam estar de forma alguma, desvinculadas da análise histórica ou da análise transcendental da consciência, pois esta é sempre consciência de algo (No sentindo que só existe pela interação com o que se tem como realidade), é manifestada pela linguagem, que, por sua vez, é a forma pela qual apreendemos o mundo.
A associação feita entre o transcendental e o material está na percepção do trabalho (Ato transformador da natureza) humano como teológico, assim sendo, diretamente ligado as formas de representação produzidas pelos “seres ativos”, jamais contrastante com a “ideia” e a “consciência” que a produz (Vemos ai outra inversão do sistema hegeliano, onde a consciência particular é fruto da “ideia absoluta” e está em relação dialética com ela).

As representações que esses indivíduos produzem são representações, seja sobre sua relação com a natureza, seja sobre suas relações entre si e sobre sua própria condição natural. É claro que, em todos os casos, essas representações são uma expressão consciente – real ou ilusória – de suas verdadeiras relações e atividades, de sua produção, de seu intercâmbio, de suas organizações sociais e políticas. (2007, p. 93).

Nossa consciência, para Marx e Engels, só existe em sua relação com a materialidade das coisas, e a crítica das representações que os seres humanos produzem tem de partir da percepção de que esta está diretamente relacionada a essa dimensão do “mundo conhecido pelo pensante”. A análise histórica é ligada de forma simbiótica com a análise do desenvolvimento das materialidades pelo trabalho, da transformação da natureza e dos próprios meios que possibilitam essa existência.

Aqui, como em tidas as outras passagens, São Bruno não se furta à glória de fazer depender as relações reais dos indivíduos da interpretação filosófica dessas relações. Ele sequer suspeita da correlação que há entre as representações do “espírito absoluto” hegeliano e do “gênero” fuerbachiano, de um lado, e o mundo existente, de outro. (2007, p. 103).

Uma das críticas que Marx e Engels fazem que evidenciam de forma mais visceral as discordâncias destes para com os jovens hegelianos é na questão do Estado, pois, para os últimos, o Estado é a manifestação da vontade e as leis são a manifestação da vontade do Estado, os primeiros discordam afirmando que o Estado surge, primeiro, dos interesses materiais de um grupo (Desde a sobrevivência até  modelos econômicos que beneficiem uns em detrimento dos outros). Os primeiros acusam os últimos de sacralizar o mundo, pois os elementos da representação só fazem sentido quando analisados a partir da percepção de que são produtos da ação humana (A crítica de Marx a religião está firmada sobre este princípio).
Os jovens hegelianos são acusados de criticar a religião ahistoricamente, e, como dito na parte 1, para Marx e Engels tudo é histórico e a religião só pode ser analisada quando percebida como construída a partir das práticas sociais dos seres humanos, precisa-se “Partir da terra ao céu” nessa crítica.


Bibliografia consultada nesta parte 2

HOBSBAWM, Eric. O que os Historiadores devem a Karl Marx? In: HOBSBAWM, Eric. Sobre História. 2ª ed. Tradução de Cid Kinipel Moreira, Companhia das Letras, São Paulo, 2010.

MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A Ideologia Alemã: Crítica da mais recente filosofia alemã em seus representantes Fuerbach, Bruno Bauer e Max Stirner, e do socialismo alemão em seus diferentes profetas (1845-1846). 1ª ed., Tradução de Rubens Enderle. Boitempo Editorial, São Paulo, 2007.

Série - A IDEOLOGIA ALEMÃ: Resenhas simplificadas

PARTE 1
PARTE 2

SUED

Nome artístico de Línik Sued Carvalho da Mota, é romancista, novelista, cronista e contista, tendo dois livros publicados, também é graduanda em História pela Universidade Regional do Cariri. Militante comunista, acredita no radicalismo das lutas e no estudo profundo de política, sociologia, História e economia como essenciais para uma militância útil.
Escreve ao Ad Substantiam semanalmente às segundas-feiras.
Contato: lscarvalho160@gmail.com




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