ABOMINÁVEIS FORA MEDROSO DAS NEVES IV


Leitura do cronto pelo autor no canal aRTISTA aRTEIRO:

O Estado intervém policialesco e militarizado mesmo sendo civil. O que lhe faz ver, inclusive, inimigos internos.
O Estado policialesco define o que as pessoas podem pensar, no que podem crer, o que podem falar e o que podem fazer.
O Estado policialesco induz uns dedurarem aos outros.
O fascismo brasileiro sempre esteve atacando os morros e diversos seguimentos, mas com certos limites, pois se dizia “Estado de Direito”. Agora, porém, ultrapassou os limites e destila claramente o seu ódio aos seguimentos religiosos que não os seus, principalmente aos de matrizes africanas; aos seguimentos artísticos-culturais por induzirem à reflexão e à crítica, dizendo serem imorais ou indecentes; aos seguimentos LGBT’s; a todos os seguimentos que se opõe ao que querem impor.
Professora Maura Gerbo.




Foto do autor: Luz na Noite.
Na varandícula de seu apartamento no Centro de Ipatinga MG.

A noite acaba de se instalar e uma luz tremeleia, pois há quem aparenta investir em bibliotecas. Todavia, alguém vomita:
AZARBI – Venho alertar a todos sobre o filme “Corpus Christi”. Este filme mostrará Jesus e seus Apóstolos como gays. Será uma paródia repugnante de Jesus. Mas podemos fazer a diferença contra essa repugnância. Vamos reduzir o número de pessoas que vejam este filme fazendo com que as salas de cinema o retirem de cartaz. Temos que impedir esse repugnante crime contra Jesus.
A luz bruxuleia e não mais a vê.
Escritores – Vocês estão dizendo que somos repugnantes? Pois dizemos que temos nojo e desprezo por vocês. Apresentarem Jesus como gay não é repugnante, pois homoafetividade não é repugnante. Repugnante, asqueroso e nojento é o seu ódio; o seu preconceito e a sua presunção em se acharem melhores e em ‘entenderem-se’ como porta-voz de Deus.
Uma brasa persiste como uma gota de luz.
Antilivros – Gente! Que está acontecendo aqui? Escritores, este tipo de fala não cabe em ninguém temente a Deus. Lembrem-se que as igrejas afirmam que Jesus disse: “Se alguém se declara a meu favor diante dos homens, Eu vou reconhecer seu favor diante de Meu Pai Celestial; e se alguém me negar diante dos homens, Eu os renegarei diante de Meu Pai.”.
A brasa fumega escurecendo.
Professores – É muito fácil uma pessoa se declarar a “favor de Deus”, mas totalmente contraditório e vazio fazer isso enquanto dissemina o ódio, o rancor, o preconceito e toda essa lixeira. É muito fácil se dizer “Porta-voz de Deus... Conhecedor da Vontade de Deus. Guerreiro do Senhor...” – Uma pequena pausa e continuam: “Deus é amor. Mas eu tenho ódio. Muito óóóódio!”. Biblioteca, lugar de espargir conhecimento; semear saber... E tem como apoiadora uma agência transmissora de ignorância? Uma entidade infectocontagiosa de preconceitos? Nós nos retiramos de uma vez por toda e para sempre dessa pseudo associação de apoio à biblioteca. Recusamos, assim como aos Escritores, a fazer parte de uma organização que dissemina ódio em nome de Deus.
A brasa revive.
AZARBI – Mas, a arte tem que ser bela e a gente tem visto cada coisa feia, como este filme, peças teatrais e exposições...
Escritores – Somente um tolo alienado crê ou simplesmente “acha” que arte tem que ser bela. “Bela, recatada e do lar” é a ‘primeira mulher-dama do Brasil’; sabe, aquela jovenzinha sustentada pelo velho vampiro. Arte tem que fazer pensar, refletir, filosofar ou então não é arte. Arte tem que incomodar, tirar do lugar comum, fazer querer mudar de estado ou então não é arte. É arte o músico que ficou vários minutos sentado diante do piano produzindo silêncio e as pessoas questionando... Incomodadas, querendo mudanças. É arte as baratas dentro de uma caixa e as pessoas questionando... Incomodadas, querendo mudanças. É arte uma artista da dança fazendo sua apresentação com uma cabeça de porco e as pessoas questionando... Incomodadas, querendo mudanças. Não é artista um ator pornô falar quarenta minutos sobre ‘decência-indecência’ e ter um uma pasta no Ministério da Educação. Não é artista um ‘cantor(?)’ sertanejo que se diz politizado, defender a ditadura e ‘cantar(?)’ nada que acrescenta. Não é arte pintar algo que as pessoas olham, acham “bunitim” e simplesmente vão embora... Não é arte um poema, conto, romance onde as pessoas saem meladas, sorrindo, mas que não passou a ver melhor as redondezas...
Suavemente a noite orvalha luminescência.


Professora e Ativista Política Maura Gerbo – Mídia Intervindo na Arte ou A Guerra Midiática contra a Arte. 16 de outubro de 2017, no espaço Hibridus. Observação: Este apanhando é minha interpretação da fala da professora e ativista.

 Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve ao Ad Substantiam semanalmente às quintas-feiras; e todo domingo no seu blog literário: aRTISTA aRTEIRO.  É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. É graduado em Letras-Português. É pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”; autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).

Escrito entre 06 e 19 de outubro de 2017.

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