De tantos deuses e demônios acharam os ossos de Dana de Teffé

Agora que o grande e saudoso escritor Carlos Heitor Cony não se encontra mais entre nós, vou me apossar ligeira e brevemente de sua fase mais famosa: "Onde estão os ossos de Dana de Teffé?". 


Esta semana vivemos o maior mistério da história desse país. Supera ao destino dos próprios ossos da bailarina misteriosa dos anos 1950 e 1960. Ninguém sabe de onde surgiram tantos deuses e demônios, tantos apocalipses e milagres de páscoa. Todos os editoriais da chamada imprensa séria prenunciam o juízo final, o dia D, o divisor de águas. Já se aponta que na quarta-feira 300 juízes e procuradores iluminados por "Deus" e que "não recebem auxílio-moradia" irão fazer uma aglomeração na porta do Supremo Tribunal Federal, nos molde daquela que fizeram quando se falou em julgar o pequeno auxílio de 4,3 mil pago a magistratura. 
Mas qual seria esse evento meteórico que vai mudar a história moderna do Brasil? Uma simples leitura, caro leitor, do trecho mais claro da Constituição Federal. Só o paciente do habeas corpus incomoda. Luís Inácio Lula da Silva! Quanto medo de um senhor plácido vivendo sua terceira idade e do inciso LVII do artigo 5º: "ninguém (isso inclui você, eu, o Lula, seu vizinho, etc.) será considerado culpado até o trânsito em julgado (o m.q. decisão da qual não se pode mais recorrer) de sentença penal condenatória". 
Todo o mistério, subterfúgios e intenções maculadas estão claras como o espectro do dia. Não bastou o lobby pela condenação célere e capenga. É preciso agora tirar todas as chances de Lula fazer campanha pelo país, mesmo depois de obstada a candidatura. Agora é preciso aniquilar o poder de transferência de votos. E se for preciso mudar a leitura da constituição para isso? Vale ser inconstitucional?  Vale, claro que vale. O importante é ser implacável com todos os inimigos! "A lei não é para isso?", com certeza já deve ter dito algum fascista em 1930. 
A mídia com seu aparato colossal conseguiu construir o mito e agora se vê escrava dele. É preciso demonizar Lula, o representante em carne e osso de toda uma sucursal de todos os demônios do Brasil, e deificar o Juiz Infalível, o MPF et caterva,  representantes da pureza e da bondade humana, salvadores do mundo, heróis da nação, nossos próprios fundadores, criadores da nova era da justiça. Voltamos a velha estória do bem e do mal, do justo e injusto. A única coisa que posso dizer, leitor, é que "Deus está morto - assim falou Zaratustra". 
Foi criada a falsa imagem que um simples habeas corpus vai mudar os rumos da história política do Brasil. Eles afirmam tanto que Lula é um homem comum, mas não conseguem tratá-lo tal como. Não conseguem lhe tratar como um cidadão com direito a justiça, que não está acima da lei, todavia, que não pode também viver sem a tutela dela. Quanto disparate nos editoriais. Só podemos esperar afinal uma coisa, o juízo final para as elites, e a justiça para nosso ex-presidente. Que se acabe o mundo se só assim é possível existir a justiça. A constituição não aceita meias palavras... outrossim a nós.

Josué da Silva Brito
Escreve aos sábados para o Ad Substantian.
https://www.facebook.com/josuedasilvabrito1998  


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